Faz tempo neh? Mas trago grandes novidades! Hoje faz 2 meses que nosso canadensezinho nasceu 😀 Esse é o Michael!
Estava esperando ele nascer pra escrever como foi todo o processo, pra vocês terem uma boa noção de como é ter filho no Canadá.
Ainda não temos médico da família aqui em Montreal, exceto por um residente no hospital de Verdun, mas oficialmente ele não conta. Aqui, emergência faz jus ao nome, e a menos que seja algo que posso levar a óbito, você pode esperar várias horas, depende do hospital e horário. Mas tudo muda quando você está grávida: a obstetra literalmente ligava pra saber como a Lyara estava, ligava pra avisar que a farmácia já tinha a medição dela, etc. Ela e o bebê passaram a ter prioridade absoluta pro governo. Conseguimos a médica que fez o parto da madrinha do Michael, além de experiente e competente, ela atende no melhor hospital da cidade, o Royal Victoria.
O começo
Aqui, só se é permitido saber o sexo do bebê após 4 meses. Isso é devido a uma combinação de 2 fatores:
- o aborto é permitido por qualquer motivo até 4 meses. Eles fazem de tudo pra convencer você a não fazer, mas não podem negar.
- a população de chineses aqui é enorme, e eles tradicionalmente abortam assim que sabem que é menina 😡😡😡😡
Felizmente, descobrimos um teste americano que garante em 99% acertar o sexo após 1 mês. Você recebe pelo correio, envia de volta e em 5 dias tem o resultado online. A quem interessar possa, é o https://sneakpeektest.com . Estava meio cético, mas não havia 1 única crítica nos reviews do Amazon (pode comprar por lá ou direto no link que colei). E, de fato, ele acertou na mosca!
A licença
Aqui há 2 opções de licença maternidade: 12 meses recebendo 70% do salário por mês, ou 9 meses recebendo 75% por mês. Isso é baseado na sua média salarial nos últimos 12 meses. A licença paternidade pode ser de 5 ou 3 semanas, com os percentuais acima. Contudo, a mãe pode doar 3 meses ao pai, se assim preferir. Essa licença pode ser parcelada, inclusive: 1 semana aqui, 2 mais na frente, e assim por diante.
Aqui a licença é paga pelo governo, e não pelo patrão. Talvez por isso, ninguém faz cara feia quando você sai de licença, ao contrário: todos pareceram bem felizes pela gente. Justamente para cobrir essas "vagas" temporárias que existem as ofertas de emprego por contrato.
O valor é depositado direto na conta corrente ou por envio de cheque pelo correio, vai da sua preferência. Dependendo da sua área de atuação - algo que ofereça o mínimo risco para a mulher ou o bebê - o governo lhe OBRIGA a tirar uma pré-licença de alguns meses. Como a Lyara era atendente odontológico, ela pegou 3 meses de pré-licença; também remunerada, claro.
Todo o processo de pedir licença é feito digitalmente pelo site oficial de suporte paternal. É imprescindível enviar ao governo o Record of Employment - um documento emitido pelo seu patrão que diz quando você começou a trabalhar, quando parou e o quanto recebeu nesse período. Eles começam a te pagar antes mesmo disso, na "fé". Mas se demorar a enviar, o valor é suspenso - descobrimos isso da pior forma 😰 Mas assim que voce regulariza, eles pagam retroativo. Também é importante não receber nenhuma fonte de renda nesse período, nem mentir nos valores - eles cobram a diferença.
A gestação
A Lyara foi acompanhada praticamente de mês em mês. Chegando perto, de 15 em 15 dias e até semanalmente. Posição do bebê, pressão arterial dela, peso dos dois, tudo era acompanhado. Aqui, o parto natural é a regra, a menos que seja imprescindível fazer cesária. A médica pediu explicitamente que ela nem pensasse em visitar o Brasil, com medo que ela pegasse colera, chikunguya ou zika, até porque eles nem tinham ideia de como tratar isso aqui - afinal nem existe no Canadá.
Aqui a expectativa de parto é 2 semanas a mais que no Brasil. Infelizmente, a pressão arterial da Ly tava meio alta, e isso preocupou a médica. Ela optou por induzir o parto 2 semanas antes - que seria o prazo normal ai no Brasil.
O hospital e o parto
A melhor comparacão que posso fazer, é que o Royal Victoria é um shopping center com clínicas e salas de cirurgia. Enorme, brilhando de novo e limpo, cheio de lojas e restaurantes. Nunca ví algo parecido em Fortaleza; o hospital da Unimed parece um puxadinho perto dele.
No quarto da Ly (sim, um quarto só dela) tinha cadeira, sofá, wifi e água gelada. No corredor, geladeira e microondas pros pacientes, máquinas de água e gelo, máquinas de refri e lanches (podia pagar no débito!). Ela tinha direito a 3 refeições por dia, bem servidas e gostosas, diga-se de passagem.
As enfermeiras e residentes checavam ela de hora em hora. Ela tinha um botão na mão para chamar alguém na hora. Tinha um monitor na barriga dela pra monitorar a respiração e batimentos do Michael; se saísse do lugar, a máquina apitava loucamente e vinha alguém correndo ver se havia algo errado. Chegamos lá no domingo dia 24 de Março, apenas 4 dias após a médica decidir por induzir o parto e pedir vaga no hospital. A Lyara disse "no que me derem a medicação, em 1 hora estou parindo"; pensei que parecia meio mágico, mas enfim. Deram a medicação pra ela começar a dilatar. 12 horas depois, nada, nem 1 centímetro. Deram denovo. Ficamos nesse loop até a madrugada de segunda pra terça. Lembro de brincar dizendo "nesse rítmo, ele vai nascer só dia 27, meu aniversário".
Na segunda a tarde, eu tinha ido em casa ver os peludos, e ela me liga pra ir correndo pois a bolsa havia estourado. Pensei "eita é agora". Mas que nada... descobrimos que, tudo monitorado, a mulher pode ficar com o bebê até 48 horas depois da bolsa estourar! Fui correndo pra lá a toa 😤
As contrações já tinham começado e ela já estava sentindo bastante dor, já estavam dando tylenol e até morfina pra ela. Inclusive, ela passou a ter outro botão na mão, que injetava morfina a hora que ela quisesse. A bendita médica (a oficial) apareceu uma vez; disse que estava tudo bem com ela e o bebê e ia continuar a indução... questionei porque não fazer a cesária logo e ela disse que ainda não havia motivo pra isso... 😡
Na manhã de terça, ela não aguentava mais de dor, e pediu pela injeção peridural. Peeeeeeense num cacete de agulha! Fiquei segurando nas mãos dela, e deu pena ver alguém enfiar aquilo tudo na coluna dela 😭 Mas poucos minutos depois, ela dormiu de verdade pela primeira vez desde domingo.
Ainda manhã, ela havia dilatado 3 centímetros.Fui em casa ver os peludos, e de tarde ela me liga dizendo que já estava com 12, e que com 15 seria o parto, que eu fosse correndo e etc. Como já era gato escaldado, insisti que ela confirmasse isso... E ela "a enfermeira disse, não tem perigo, vem logo", insisti novamente. Não deu outra: houve um "pequeno engano" e ela ainda estava com 3 centímetros 😒 Malditas estagiárias...
A abençoada médica aparece 11:45 da noite. Questiono novamente pela cesária, ela diz que não fez ainda pois não havia nenhuma complicação e "ELA NÃO ESTÁ COM DOR". Nessa hora, quase dei um pulo, e expliquei que ela mal conseguia dormir de dor, chorava de dor quase o tempo todo e inclusive havia tomado a peridural naquela manhã. Ela, surpresa, diz: "Você estava com dor esse tempo todo? Por que não tomou a injeção domingo logo? Por que não me disse nada?!?"😡😡
Às 0 horas do dia 27, ela autorizou a cesária. Às 01:14, Michael veio ao mundo, no meu aniversário, como eu havia previsto 🙏
O pós parto
Monitoramento total do Michael. Temperatura, respiração, tudo. Iam ver ele praticamente de hora em hora ou até menos.
Após algumas horas - ou dia 28, não lembro ao certo - começamos a receber orientações mais específicas. Foi um funcionário do governo falar com a gente e deixar todo o pedido de licença maternidade pronto, faltando só eu logar no site e dar ok. Também teve enfermeiras e afins dando orientaçao sobre como cuidar do bebê, alimentação, o que fazer quando ele chorar demais - inclusive, que com cerca de 6 semanas ficaria muito pior o choro. Recomendaram que, após conferir que ele não tem fome, não sente dor nem está sujo - ou seja, é birra - que a gente ignorasse por uns 15 minutos, fosse tomar banho (nunca tomei tanto banho na vida - disse a enfermeira), fosse ver TV, e depois fosse ver ele. A lyara, contudo, não consegue fazer isso 😞 Há também uma hotline, 24 horas, caso você tenha alguma dúvida ou precise de auxilio.
Já na primeita noite, começou o choro. Nunca imaginei que pudesse ser tão alto. Teoricamente era fome, pois inicialmente o leite da Lyara era pouco. Chegaram a nos dar uma caixa de fórmula pros primeiros dias. Na manhã de sexta, depois de literalmente uma semana dormindo mal naquele sofá, e há dias com muito choro do Michael, tive um ataque de panico e também cai no choro. Estava esgotado mentalmente. Na mesma hora, o serviço social bateu lá, querendo saber se a criança era planejada, se tinhamos problemas mentais, e etc. Com medo que algo acontcesse com a criança. Depois que expliquei meu ponto de vista, se acalmaram e nos deixaram ir pra casa. Lembrando que, no Canadá, você só sai do hospital com o bebê se tiver um car seat (aquela cadeirinha de por no carro), mesmo que você não tenha carro.
Só um detalhe: além do estacionamento e da minha comida, não pagamos 1 centavo por nada. Foi tudo coberto pela saúde pública canadense 🙏
A visita do serviço social
De prache, o Serviço Social visita a casa de todos que acabaram de ter filhos, para conferir se há de fato um lar apto a receber uma criança. Como tive aquela crise de choro então... Nos fizeram um medo enorme, dizendo que reviravam a casa atrás de qualquer sujeira, e ficamos preocupados pelos peludos. Tudo ficção - ela foi direto pro quarto do Michael, conversou com a Lyara, perguntou se eu estava bem e foi embora em 20 minutos.
Bom, acho que sobre isso, é só pessoal! Até a próxima! 🙌